Ainda me lembro de aqui escrever, enquanto as lágrimas me escorriam pela face, ao mesmo tempo que a caneta deslizava sobre as linhas retas do papel. Ainda me lembro de ter deixado de o fazer, de ter arrancado a escrita de mim à medida que deixava pedaços espalhados pela rua daquilo que na altura pensava ser um amor que correu mal. Ainda me lembro das noites inquietas, da dor, do sofrimento, da esperança e das desilusões que essa esperança motivara. Lembro-me de palavras soltas, de promessas que se perderam nas entrelinhas, de caminhos que nunca percorri. Mas lembro-me de tudo isto de uma maneira tão ténue, tão apagada que chega a parecer que enterrei essa parte da minha vida da mesma maneira que enterrei a escrita. Quero voltar, mas não sei como. Deixei de ter vontade. Vontade de passar os sentimentos para um papel vazio, vontade de escrever sobre o que ninguém quer ler porque não tem paciência ou porque não é suficientemente bom, ou então devido a ambos. Pensava que as palavras iriam estar sempre comigo, para qualquer lado que fosse, mas isso não aconteceu. Gostava de voltar mais não sei como. Talvez um dia, quando a vontade de pegar na caneta e no caderno pautado surgir. Quem sabe se hoje não terá sido esse dia e estas palavras que vos deixo o sinal de um recomeço...